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A Pedra Dos Mundos

Capitulo 5 Parte 2

Balder acordou ouvindo o som de trombetas que ecoavam como trovões no horizonte.

Sentia a cabeça latejando e o peito dolorido, como se tivesse sido arremessado em alta velocidade.

Pensou que havia batido a cabeça já que a vista estava embaçada e tudo ao redor estava fora de foco. Tentou ficar de pé mas suas pernas tremiam. Optou então por continuar sentado já que a situação pedia.

Forçou a memória pra lembrar do que havia acontecido, havia escutado em algum lugar que era um bom exercício para se fazer depois de um acidente. Lembrava-se de sair da casa de Kára, de dirigir em alta velocidade e até mesmo da música que havia colocado pra tocar no rádio.

Lembrou também de sentir um arrepio na espinha e logo depois um clarão de luz que fez ele perder o controle do carro indo bater naquele peça de metal.

Balder olhou para o próprio braço como se só agora desse conta da existência dele.

Em seu pulso havia um estranho bracelete feito de bronze, com um palmo de comprimento. O bracelete era bem trabalhado, com detalhes em relevo que mostravam uma armadura no estilo cavaleiro medieval, um raio que abria um buraco no chão e um livro com o símbolo de uma serpente mordendo a cauda. Balder não sabia o porque, mas acreditava que aquilo eram instruções de algum tipo.

Obrigou o corpo a ficar de pé e tentou remover o bracelete que nem sequer se moveu.

Fechou os olhos tentando buscar mais ainda o que havia acontecido. A cabeça doía e dificultava o pensamento. O zumbido no ouvido dificultava a concentração.

Lembrou que após bater o carro ele desceu e examinou o estrago. Vendo a peça de bronze que flutuava sobre a rua e sequer havia sido arranhada.

“Eu não vou encostar nessa porra.” Ele lembrava de ter falado vendo a peça que flutuava. “já vi filme demais pra saber que isso vai ficar preso em mim”

Ele olhou para o bracelete que tremeluziu, como se reagisse aos seus pensamentos.

Novamente o bracelete reagiu ao pensamento de Balder e imagens inundaram sua mente.

Viu o carro amassado na estrada e a peça flutuando. Viu a si mesmo entrando no carro e tentando dar partida e o motor não respondendo.

“Inferno!”— o Balder da imagem exclamou. — “Eu tô cansado dessas esquisitices que acontecem comigo.”

Balder saiu do carro e abriu o porta-malas pegando um pé-de-cabra e deu uma tacada na peça de metal como se fosse um jogador de golf profissional. A peça não se moveu nem um milímetros sequer e os braços de Balder tremeram com o impacto.

“Não estou surpreso. Aposto que se tentar te pegar você vai ser leve como uma pluma.”

Balder da imagem revirou os olhos e apanhou a peça que continuou flutuando na sua mão. Passou os dedos ao redor dela removendo a poeira do objeto cilíndrico que brilhou e agarrou-se no pulso do seu braço direito.

Balder sentiu uma dor aguda no corpo todo após isso e insultando diversas dúzias de palavrões ele tentou de maneira falha remover o seu novo bracelete.

“Eu sabia que essa merda iria acontecer e mesmo assim eu fui lá e fiz merda.” — A imagem mostrava Balder sentando-se ao lado do carro. — “Agora estou aqui, no meio da estrada, falando sozinho com a porra de um bracelete cigano no braço.”

A imagem desapareceu da mente de Balder e ele olhou para o Bracelete.

Balder havia procurado em diversos lugares e em diversas fontes algo que pudesse explicar a origem dos sonhos dele e de Kára. Consultou teólogos, gurus, cientistas e vários outros que diziam ser especialistas no assunto. Com essa pesquisa começou a entender e controlar algumas partes. Entendeu que a premonição que sentia em cada luta vinha disso, descobriu que conseguia se transportar por memorias enquanto dormia, conseguiu fazer projeções de si mesmo que viajavam de um lugar ao outro e entendeu que os pesadelos geralmente estavam associados a morte, espíritos e tragedias. Tudo isso trouxe experiencias incríveis e terríveis. Criaturas que habitavam os sonhos e pesadelos podiam feri-lo no mundo acordado e ele não poderia toca-las. Algumas até escaparam de seu sonho e trouxeram consigo uma onda de pesadelos por onde passaram até serem destruídas de maneira natural. Isso ele também aprendeu, os monstros do pesadelo causava grandes danos ao serem libertos, mas não podiam existir por muito tempo no mundo acordado.

E agora lá estava Balder, de pé na estrada, vivendo um de seus sonhos.

Os olhos de Balder ainda estavam embaçados e o mundo fora de foco. As trombetas que soavam incessantemente estavam mais fortes e mais próximas, como se um batalhão de cavaleiros marchasse em sua direção.

Outra vez o bracelete brilhou e imagens apareceram novamente na cabeça de Balder.

Ele estava sentado ao lado do carro quando o dia começou a escurecer. O sol havia se tornando negro e as nuvens se adensaram ao seu redor. O vento soprava gelado e cortante, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. As sombras pareciam se mover em uma dança macabra de passos desconexos.

Balder ficou de pé e assumiu uma postura de guarda com os punhos cerrados a frente do rosto. Era um lutador pronto para o combate.

As sombras então atacaram, saltando de todas as direções sobre Balder que já havia previsto o ataque e rolou para trás no momento certo. Outros três ataques vieram e com a desenvoltura de um atleta ele se novamente conseguiu se safar.

Diversos ataques vieram de todos os lados e Balder continuava desviando-se de forma incessante. Entretanto, seu corpo já mostrava cansaço e sua respiração ficava cada vez mais e mais pesada.

As sombras assumiram forma de uma garra gigantesca e cortaram o ar e atacaram Balder que não tinha forças para se desviar mais, apenas levantou os punhos e cobriu o rosto.

Sentiu o impacto do ataque mas nada além disso. Ao levantar abrir os olhos viu que o bracelete havia transformado-se em um escudo.

As sombras recuaram e saltaram novamente, a garra dessa vez veio por cima tentando esmagar Balder.

O Bracelete brilhou e transformou-se em uma manopla que cobriu o braço de Balder até o cotovelo. Levantando a manopla Balder conseguiu amortecer o ataque.

Utilizando da força do próprio bracelete que envolvia seu braço, Balder segurou a garra e com um grito apertou as sombras ate que elas explodissem e voltassem para onde vieram.

Mas não demorou muito para que atacassem novamente.

Balder se defendia dos ataques e contra atacava. Mas de pouco ou nada adiantavam suas investidas pois as sombras reformavam-se e novamente partiam em sua direção.

No auge do cansaço seus movimentos vacilaram e as garras de sombras cravaram-se em sua pele fazendo com que ele soltasse um grito surdo.

As sombras então ficaram mais densas e atacaram sem cessar. Arranhões, cortes e pancadas arremessavam Balder como se ele fosse um brinquedo nas mãos de uma criança.

Quando tudo parecia perdido, o bracelete brilhou com uma luz intensa, afastando as sombras e protegendo Balder que caiu desfalecido ao chão.

A imagem então desapareceu e Balder se viu novamente no lugar que ele chamou de ponte.

Balder foi interrompido quando sentiu alguém se aproximar.

Instintivamente o bracelete assumiu a forma de manopla em seu braço.

A voz riu de puro divertimento e sua risada era como uma correnteza chocando-se contra um rochedo.

Balder ficou atônito por um instante.

Novamente Metatron ria de puro prazer.

Balder percebeu que Metatron disse a palavra “planos” com letra maiúscula, como se fosse algo além do que ele deixou a entender.

Metatron olhou Balder dos pés a cabeça, sem tentar esconder a preocupação no rosto.

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